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Disco: “Range of Light”, S. Carey

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S. Carey
Folk/Indie/Singer-Songwriter
http://scarey.org/

Por: Cleber Facchi

S. Carey

Desde que Justin Vernon apresentou ao público o segundo registro em estúdio pelo Bon Iver, em 2011, parte expressiva da cena folk estadunidense seguiu a trilha melancólica deixada pelo cantor. Guitarras acústicas, efeitos eletrônicos e a constante manipulação das vozes. Imposição que esbarra na obra solo de Jim James (My Morning Jacket), reverbera de forma precisa no último álbum de James Vincent McMorrow (Post Tropical), mas que funciona de forma ainda mais assertiva no interior de Range of Light (2014, Jagjaguwar), novo álbum do velho parceiro de Vernon, S. Carey.

Sucessor do autêntico All We Grow (2010) e quase uma continuação dos inventos testados em Hoyas EP (2012), o novo disco é uma plena expansão do universo do compositor. Ainda que a sonoridade absorvida seja a mesma de Vernon, cada passo dado no interior do novo registro ecoa presença e incontestável identidade, marca que vai da inaugural Glass / Film, ao fechamento sublime que pontua Neverending Fountain, ato final daquela que é a obra mais concisa do norte-americano.

Brincando com o Folk em uma estrutura particular, Carey deixa de lado o experimentalismo torto para reforçar o uso de melodias sempre precisas, ainda que leves. Minimalista em essência, o registro funde tanto a tonalidade sorumbática de Elliott Smith, como o lirismo quase místico de Nick Drake, um cruzamento que funciona de maneira particular, sem que para isso transforme o álbum em um registro copioso ou pouco abrangente. Há confissão, presença vocal e a construção de pequenos cenários bucólicos, estratégia que dança de forma sempre aproximada no interior do disco.

Talvez o aspecto mais curioso do álbum não esteja na forma como vozes e arranjos se comportam no decorrer das faixas, mas na maneira como a percussão orquestra com singeleza a composição do disco. Baterista de longa data, Carey atravessa o disco posicionando acréscimos minimalistas de batidas e ruídos percussivos, ferramenta que garante real sentido ao álbum, ao mesmo tempo em que distancia o músico de grande parte dos cantores do gênero. Uma essência branda que vai do Pós-Rock do Talk Talk aos contornos sintéticos de Björk no álbum Vespertine (2001).

Ao mesmo tempo em que funciona como um álbum de pequenos atos, Range of Light firma no detalhismo de determinadas canções pequenos pontos de referência para a obra. Seja na inclusão de harpas em Fleeting Light, ou na métrica segura dos violões em Fire-Scene, Carey por vezes atravessa a massa densa dos arranjos para brincar com o “pop”. Uma fluidez detalhista que conversa com a massa de ouvintes inspirados por Fleet Foxes, Iron & Wine e tantos outros nomes recentes, mas que reverbera com precisão a identidade do músico.

Confortável em um ambiente particular, Carey pode até não ultrapassar determinadas barreiras acústicas/líricas, mas está longe de solucionar um álbum marcado de forma monótona ou pontualmente estável. Trata-se de uma obra que cresce e diminui durante todo o tempo, como um convite para passear pela mente instável e ainda assim segura do compositor. Um espaço em que sonhos, desilusões amorosas e medos convivem pacificamente, mas nem por isso silenciam suas amarguras.

 

S. Carey

Range of Light (2014, Jagjaguwar)

Nota: 7.8
Para quem gosta de: Bon Iver, James Vincent McMorrow e Iron & Wine
Ouça: Fire-scene, The Dome e Crown The Pines

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